ÓPERA DO MATO Por que cantas, campina, em pios tão doridos, Como quem fala a Deus, em comovente prece, Com tom de gratidão, misturado aos gemidos Do dia, quando o sol se despede – e anoitece? O teu gorjeio terno alcança-me os ouvidos, Qual canto de ninar que aos poucos adormece No berço o pequenino; ou flauta que os sentidos Acalma, adoça, encanta e poupa-nos do estresse! E escuto o teu concerto, embevecido e grato A Deus por ter-me dado a chance de assistir Num palco natural a esta ópera do mato. Não quero ter na Terra a glória de um vizir, Nem quero ter poder, prestígio, nem mandato; Se o que quero já tenho: a glória de te ouvir! Campos, Canindé, 25 de março de 2010.